quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DIPLOMAÇÃO: memória de uma tragédia *Suzy Maurício

Há doze anos, em Maceió, horas após a cerimônia de diplomação dos políticos alagoanos, a então eleita Deputada Federal,Ceci Cunha, médica natural de Feira Grande, foi emboscada e violentamente assassinada, junto ao esposo e duas outras pessoas, na casa da irmã, na Gruta de Lourdes. A rosa vermelha na mão, foi respingada pelo sangue de uma cidadã alagoana ímpar, de voz branda e quase rouca, jeito simples em sua forma de interagir com os demais, olhos tão sinceros quanto suas intenções, feito os das crianças vindas ao mundo através de sua práxis cuidadosa em Ginecologia.


A “chacina da Gruta”,nome dado à tragédia, permanece na memória de todos, sobretudo dos Agrestinos. Neste dia 16,outra médica, companheira política de Ceci, será diplomada Deputada Federal, eleita com votos saudosos desta, inclusive. É inevitável não ruminar sobre aquele 16 de dezembro de 1998, até então sem desfecho. E por qual motivo não há?
Ceci, além de amiga da minha família, era nossa médica e como mulher, um expoente. Em Arapiraca, foi construído o Memorial da Mulher Ceci Cunha, em sua homenagem. O local abriga alguns de seus pertences, suas memórias, suas falas, seu registro histórico e das demais mulheres cujas trajetórias emanaram no desenvolvimento da segunda maior cidade do estado.


Nacionalmente, entretanto, elegemos a primeira mulher Presidente do Brasil, é o silencio e o patriarcalismo rompido. A quota feminina ainda é tímida na política, nos quadros governamentais, na liderança de lutas por políticas públicas que possam melhor atender as necessidades de nosso povo e suas violações de direito. A criança e o adolescente sofrem abusos diários, o dependente químico não tem números de CAPS ad que atendam a crescente demanda estadual nem ações prática de redução de danos. Os milhares de índios continuam à deriva, aguardando com esperança as ações da nova Secretaria Nacional de Saúde Indígena. O número de homicídios e roubos crescem, a mulher, apesar da lei Maria da Penha, ainda tem altos registros de violência, sobretudo, a psicológica, o assédio moral e sexual no trabalho.


Estreantes e antigos políticos serão empossados, sempre com a proposta de renovação e construção ao assumir os mandatos de Governador, Senador, Deputado Federal e Estadual. O povo alagoano, entretanto, é espectador de um estado apontado como o mais violento do país, com sucessivas reportagens da TV Globo e outros veículos sobre uma segurança pública inexistente, roubos aos cofres públicos, tráfico e consumo de crack desenfreados, leis que não saem do papel, cidadãos com medo e uma Assembleia Legislativa vergonhosa, para não dizer contraproducente aos interesses públicos, porém, ágil no que concerne aos particulares e financeiros de seus representantes. A culpa? É de cada eleitor que não fez uma avaliação correta de seu candidato, que recebeu mimos em troca de seu voto, agora sofrerá consequências.


Hoje, lamentamos a perda de Ceci, que certamente iria construir novas possibilidades para a mulher alagoana. Lemos o Jornal Gazeta ou sentamos diante da TV que nos mostra a brutalidade cotidiana, a “chacota” dos demais estados em relação ao nosso, a incredibilidade política de uma ALE que agoniza, corrupção e inércia do povo. Para mudar é preciso nos pronunciar, agir e dar um basta nos crimes afins de que padece esta terra,situada em parte, de frente para o mar e de costas para o mundo.

*É Psicóloga (www.suzymauricio.com)

Fonte: http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=219044

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